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A data 31 de Março, o Dia Internacional da Visibilidade Trans, foi iniciada em 2009 pela ativista Rachel Crandall. Ela estava incomodada por reparar que a comunidade trans estava muito marcada por um dia que lembra as vítimas de crimes transfóbicos, mas que também deveria exaltar e celebrar as coisas boas do seu grupo identitário.


De fato, muitos são os dados alarmantes que nos levam a questionar e refletir sobre desafios dessa comunidade. Por outro lado, dar luz e buscar espaço em um dia específico também é uma forma de luta e resistência. 

No Brasil, a data nacional é celebrada no dia 29 de janeiro. Mas antes de sabermos mais sobre o contexto no qual pessoas trans estão inseridas, precisamos entender as denominações e diferenças entre os termos abaixo:

A população Transgênero

Transexual

Há um tempo, esse termo era usado para falar sobre pessoas transgênero mas, em alguns contextos, tem caído em desuso para não dar a impressão de que ser trans é uma orientação sexual.

Transgênero

Este termo é usado atualmente para abarcar as pessoas trans. Por exemplo: um homem transgênero é aquele que foi identificado como mulher ao nascer e passou a se reconhecer como homem, enquanto, da mesma forma, a mulher transgênero é aquela que foi designada homem ao nascer mas, na verdade, se identifica como uma mulher.

Travesti

Travesti é um termo mais comum nos países da América Latina, na Espanha e em Portugal. Já foi usado como xingamento transfóbico e também para denominar uma mulher trans que não desejava passar pelo processo de readequação genital, mas não se aplica mais. Hoje o termo travesti é comumente usado para empoderamento e resistência da comunidade.

A diferença entre as três denominações é de auto identificação. Caso esteja na dúvida e não queira cometer um ato de transfobia, use apenas o prefixo trans ou pergunte à pessoa como ela se identifica. Inclusive, um ótimo primeiro passo é perguntar (pessoalmente ou via formulário) como a pessoa gostaria de ser chamada, combinado?

Você sabia?

Ao se identificarem com um gênero diferente dos que lhes foram atribuídos no nascimento, os transgêneros enfrentam uma luta permanente para que sejam reconhecidos e respeitados pela sua verdadeira identidade. Nessa jornada, há uma enorme exclusão que geralmente começa no ambiente familiar, passa pelos espaços educacionais e reverbera no mercado de trabalho.

A não aceitação e violência contra a população T se mostra tão acentuada que sua expectativa de vida é muito abaixo do padrão. Enquanto a média de vida do brasileiro é de 75,5 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os transgêneros esse número cai para 35 anos. Isso mesmo.

O dado acima é ainda mais preocupante quando sabemos que o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais em todo o mundo. Esse é o alerta do novo dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), publicado no em janeiro deste ano em razão do Dia Nacional da Visibilidade Trans.

De acordo com o documento, 124 pessoas trans foram assassinadas em 2019. O México, que está em segundo lugar no ranking global, reportou metade do número de homicídios.

O mercado de trabalho

A falta de oportunidades em educação também interfere diretamente na busca por emprego. Segundo uma pesquisa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), 82% dos transexuais e travestis não concluem seus estudos. Ligado a isso, outros dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) mostram que 90% das mulheres trans estão na prostituição devido à vulnerabilidade socioeconômica nas quais elas se encontram.

Segundo matéria da revista exame, mesmo com esses dados extremamente preocupantes, as pautas do movimento LGBT estão ganhando voz e avançando — ainda que lentamente. Esse movimento é capitaneado, principalmente, pelas multinacionais que, desde a década de 90, replicam políticas para aumentar a presença de grupos minoritários em suas filiais brasileiras. Um exemplo é que, entre as 59 companhias signatárias do Fórum de Empresas e Direitos LGBTs, fundado em 2013 para reunir organizações que querem falar sobre o tema, só três são de origem brasileira.

Um exemplo inspirador no campo do empreendedorismo vem da plataforma Transempregos, que tem como co-fundadora a ativista Maite Schineider, mulher trans que não encontrou espaço no mercado de trabalho, apesar de ser formada em direito, e resolveu empreender ajudando a mudar esse cenário. Voltada para a inclusão de profissionais trans nas organizações, a iniciativa foi criada em 2014 com apenas 12 companhias que queriam usar seus serviços. Atualmente, já mais de 450 empresas parceiras.

Outro exemplo vem da Gabriela Augusto, fundadora da consultoria em diversidade e inclusão Transcendemos, que encontra dificuldades diários para ajudar outras organizações a tornarem-se mais inclusivas. Em conversa com a gente, a especialista compartilhou suas percepções:

O que devemos celebrar no Dia Internacional da Visibilidade Trans? 

A palavra celebrar pode estar relacionada com o ato de “comemorar” ou de “promover”. Na minha opinião, devemos comemorar alguns avanços importantes que conquistamos nos últimos anos, como: ligeiro aumento da presença de pessoas trans no mercado formal de trabalho, aumento da representatividade em filmes, novelas, peças publicitárias e grandes canais de mídias sociais. 

É importante que ocupemos cada vez mais espaços na sociedade e que as pessoas consumam conteúdos produzidos por pessoas trans. Porém, devemos nos atentar para o fato de que tais avanços ainda são incipientes e que essa comemoração deve ser feita com cautela. 

Ainda há muitas pessoas trans sendo expulsas de casa, sofrendo uma série de violências e exclusões. Devemos direcionar os nossos esforços para trazer mais atenção da sociedade para os nossos desafios atuais e engajar mais pessoas na nossa busca por uma inclusão efetiva.

Quais são os seus principais desafios e oportunidades ao empreender como mulher trans? 

Quando eu comecei o meu trabalho com a Transcendemos Consultoria, diversidade e inclusão ainda não eram temas relevantes para o meio empresarial. 

Naquele primeiro momento, enfrentei grande resistência por parte de representantes de empresas que não encaravam esses tópicos como assunto estratégico. Com o passar do tempo, fui implementando projetos em empresas como Google, Maersk, Gerdau e Leo Burnett. 

Hoje, ter esses cases de sucesso me ajuda a demonstrar de forma objetiva quais são os reais impactos de se pensar em uma estratégia eficaz de D&I.

Que dicas você daria para os profissionais de RH que querem apoiar esta causa?

Uma coisa que eu sempre digo é que não há uma solução “just add water” quando o assunto é diversidade e inclusão. 

Toda organização tem os seus próprios desafios e deve contar com um rigoroso trabalho de diagnóstico em cima disso. 

De outro lado, eu diria para os profissionais de RH procurarem, em primeiro lugar, desenvolver um processo de conscientização e treinamento dos colaboradores da empresa. Há uma série de questões como: uso de pronomes, banheiros, perguntas indiscretas e etc., que devem ser endereçadas antes de qualquer outra iniciativa ser implementada.

Saiba mais

Tá, mas como você pode contribuir em meio a este cenário? O primeiro passo é buscar informação. Quanto mais consciência e esclarecimento sobre o assunto você tiver, mais segurança terá para disseminar conhecimento e também empoderar as pessoas ao seu redor.

Por isso, sugerimos alguns conteúdos para você se aprofundar ainda mais nessa temática. Vamos lá? 

Não só no Dia Internacional da Visibilidade Trans, mas ao longo de todo o ano, a Eureca reafirma o seu apoio à causa da população transgênero. Entendendo o nosso papel de eternos aprendizes, buscamos sempre evoluir para incentivar e fortalecer cada vez mais o debate e as ações em prol de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Victor Feitosa

Comunicólogo cearense que atua com programas de desenvolvimento pessoal. Um estudioso e apaixonado por educação, liderança e diversidade. Acredita que esses três pilares podem mudar o mundo se tivermos as pessoas certas nos lugares certos. No mais, adora filmes de terror, séries intrigantes e música pop.

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