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Ser antifrágil consiste em tornar-se ainda melhor, mesmo depois de situações adversas, improváveis ​​ou imprevisíveis. A antifragilidade é uma habilidade comportamental que vai além da resiliência e está sendo cada vez mais buscada por organizações em processos seletivos.


A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para si mesma: ‘preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas’. Ostras felizes não fazem pérolas. Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador, seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso ser uma dor doída… Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade. Para me livrar da dor, escrevi“. – Rubem Alves

Dor, dificuldade, desafio, problema. Todas as questões pessoais e profissionais aparecem em nossa trajetória como obstáculos a serem superados dia após dia, assim como grãos de areia pontudos que nos incomodam e, por vezes, nos machucam. Sabemos que não é nada fácil ter que encará-los e envolvê-los com uma esfera lisa. E, para suportar esse processo, aprendemos que precisamos ser resilientes.

Mas será mesmo que isso é suficiente?

O ano de 2020 trouxe inúmeros aprendizados para a sociedade, para o mundo corporativo e, consequentemente, para a frente de recursos humanos. Com as mudanças por conta da pandemia, muitas dinâmicas se modificaram, acentuando algumas realidades e modificando completamente outros movimentos, o que para muitos gerou diversos obstáculos.

A partir desse contexto de desafios e dificuldades em larga escala, a antifragilidade foi pontuada como uma competência que faz parte das tendências de RH para este ano.

O que é antifragilidade?

A teoria do  antifrágil é de autoria do professor líbano-americano no Instituto Politécnico da Universidade de Nova York, Nassim Nicholas Taleb. O docente se destaca, ainda, por ser um grande investidor no mercado financeiro que, como se sabe, é um dos ambientes de negócio mais voláteis e incertos que existem.

Nesse contexto nasce o conceito antifrágil, que tem como precursores os livros do mesmo autor chamados “Iludido pelo acaso: a influência oculta da sorte nos mercados e na vida”, de 2004 e “A lógica do Cisne Negro”, de 2007.

Nassim Taleb define o termo da seguinte forma:

“Algumas coisas se beneficiam de choques; eles prosperam e crescem quando expostos à volatilidade, aleatoriedade, desordem e fatores estressantes e amam a aventura, o risco e a incerteza. No entanto, apesar da onipresença do fenômeno, não há palavra para o exato oposto de frágil. Vamos chamá-lo de antifrágil. A antifragilidade está além da resiliência ou robustez. O resiliente resiste a choques e permanece o mesmo; o antifrágil fica melhor”. 

Para ele essa propriedade está por trás de tudo que mudou com o tempo: evolução, culturas, ideias, revoluções, sistemas políticos, inovações tecnológicas, sucesso cultural e econômico, sobrevivência corporativa, a ascensão de cidades, sistemas legais, florestas equatoriais, resistência bacteriana e até mesmo nossa própria existência como espécie neste planeta.

Coisas que são antifrágeis se beneficiam da aleatoriedade, incerteza e variação.

Como apresentado na figura abaixo, o frágil é qualquer coisa que, sob uma pressão externa, uma volatilidade, não resiste e “quebra”. O robusto já consegue resistir por mais tempo à pressão externa, mas em algum momento se rompe. 

O resiliente consegue se adaptar à pressão externa, mas quando essa volatilidade deixa de existir, volta ao estado anterior. O antifrágil é ainda melhor: além de apreciar a volatilidade, ele não apenas se adapta às pressões externas mas se transforma, evolui a partir delas.

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Fonte: Inventta

Vivendo uma vida antifrágil

Mesmo com a complexidade da vida, podemos não apenas nos recuperar dos desafios, mas também ficar mais fortes? A resposta é sim. E existem princípios que podemos seguir para nos ajudar. Alguns princípios básicos retirados do livro “Antifrágil” estão a seguir:

  • Siga regras simples;
  • Resista ao impulso de suprimir a aleatoriedade;
  • Certifique-se de que você tem sua alma no jogo;
  • Experimente correr muitos riscos pequenos;
  • Evite riscos que, se perdidos, acabariam com sua meta;
  • Não seja consumido por dados;
  • Mantenha suas opções abertas;
  • Concentre-se mais em evitar coisas que não funcionam do que em tentar descobrir o que funciona;
  • Respeite o antigo: procure hábitos e regras que existem há muito tempo.

A grande lição é: não devemos evitar adversidades. Muitas situações se beneficiam de ambientes de imprevisibilidade e inconstância. Por exemplo, a melhor maneira de divulgar um livro é proibindo-o. A curiosidade gerada será muito mais eficaz do que qualquer campanha de marketing. 

Adiar crises não é o caminho. Sem aleatoriedade, sem desordem, sem perigo, sem estresse, sem incerteza, sem instabilidade, não há como desenvolver o antifrágil dentro de nós. Quanto mais exposto às incertezas você estiver, mais utilidade encontrará no conceito antifrágil.

Mas vale ressaltar que esse estímulo ao caos deve ser feito com bastante responsabilidade, autoconsciência e inteligência emocional. Apenas se expor a uma situação desconfortável não trará um resultado positivo se não vier acompanhada de intencionalidade e noção dos seus limites. Apenas dessa forma será possível desenvolver essa habilidade e tornar-se mais maduro.

Empresas e profissionais antifrágeis

Ser antifrágil, como se pode perceber, exige algum grau de autonomia e poder de decisão. Sendo assim, é um conceito que vem se difundindo rapidamente entre líderes de diversos segmentos e em empresas de todos os portes.

Por isso, algumas orientações podem ser dadas considerando a rotina de líderes constantemente demandados a decidir sobre pessoas e processos. Confira:

  • Procure receber e dar feedbacks constantes às pessoas, sempre de forma honesta;
  • Tente agir mesmo temendo os erros advindos de situações de baixo risco, já que eles servem de aprendizado;
  • Jamais se sinta confiante ou confortável demais quando as coisas vão bem, afinal, é nesse momento que as ameaças ocultas se estabelecem. Por outro lado, não se deixe intimidar por essas ameaças, lembrando sempre da segunda recomendação desta lista;
  • Procure assimilar novos conhecimentos sobre desafios pelos quais esteja passando para saber o que fazer, valendo-se da experiência de terceiros;
  • Jamais deixe para resolver os problemas depois. Tenha-os sempre como uma fonte de aprendizado que você levará para o futuro, na vida e na carreira.

Entendendo como essa característica se aplica no dia a dia das organizações e faz diferença no relacionamento interpessoal e análises de desempenho, tem sido comum inseri-la nos requisitos de recrutamento e seleção de novos talentos.

A antifragilidade nos processos seletivos

A resiliência costuma ser uma habilidade muito bem-vista nos processos seletivos. Para as empresas, o profissional resiliente é aquele que lida bem com a pressão e com grandes problemas. Mas talvez essa competência sozinha não seja mais suficiente para os profissionais que querem se destacar no mercado.

Isso porque a pessoa resiliente é como uma mola: quando a pressão acaba, ela volta ao normal, como se nada tivesse acontecido. Ou seja, depois de uma situação inesperada, o retorno é para o mesmo ponto de partida. 

Por que ser antifrágil é um diferencial?

Muitas pessoas costumam evitar situações difíceis ou mesmo mudanças que as impeçam de percorrer um caminho seguro e confiável. Por outro lado, a antifragilidade transforma essas mesmas situações inesperadas em grandes possibilidades de crescimento e desenvolvimento. 

Em um processo de recrutamento e seleção de pessoas por competências, certamente haverá a análise de comportamentos e entregas que demonstram esse tipo de atitude esperada. Afinal, o profissional antifrágil será necessário para acompanhar o crescimento da empresa ao passo que evolui na mesma proporção, superando barreiras e assumindo novos desafios.

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Victor Feitosa

Comunicólogo cearense que atua com programas de desenvolvimento pessoal. Um estudioso e apaixonado por educação, liderança e diversidade. Acredita que esses três pilares podem mudar o mundo se tivermos as pessoas certas nos lugares certos. No mais, adora filmes de terror, séries intrigantes e música pop.

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