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As mudanças atuais nos trouxeram novos desafios e a urgência de uma perspectiva diferente de mundo. Para estarem alinhadas ao futuro, é preciso que as empresas entendam o quanto o mundo BANI pode influenciar as tendências globais de mercado.


Mundo BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible) é uma sigla em inglês que define a dinâmica de mundo atual. Em português significa: frágil, ansioso, não linear, incompreensível. Essa foi uma denominação dada em 2018 pelo antropólogo Jamais Cascio, quando o futurista já observava as mudanças severas ao redor do planeta. No entanto, o sentido do conceito foi intensificado ao observar a realidade das sociedades após a pandemia. 

O Mundo BANI é uma evolução natural do mundo VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo), conceito que foi criado nos anos 80, durante a Guerra Fria.

Do mundo VUCA ao mundo BANI

Para entender um pouco dos dois conceitos, é necessário saber que tanto o conceito VUCA, quanto o conceito BANI, foram criados para explicar as dinâmicas de mundo em diferentes épocas. 

A sigla VUCA foi desenvolvida inicialmente pelo exército norte-americano que, após a Guerra Fria, tinha o objetivo de descrever como o exército deveria agir perante as transformações sociais e os possíveis conflitos. Havia uma visão de que o mundo estava volátil, incerto, complexo e ambíguo, que vinha da necessidade de desenvolvimento da tecnologia, da instabilidade que acontecia em um contexto mundial e das transformações rápidas que estavam ocorrendo de forma ainda não presenciada. 

O termo VUCA ganhou popularidade no mundo dos negócios a partir dos anos 2000, quando o universo digital teve um enorme crescimento que impactou as empresas e trouxe novas possibilidades de ver o futuro. Até meados de 2020, esse termo vinha sendo utilizado para descrever o reflexo das mudanças tecnológicas e culturais no dia a dia das empresas e das pessoas. No entanto, com a pandemia, o cenário mudou totalmente. 

Embora o termo BANI já tenha sido criado em 2018, foi a partir das mudanças sociais da pandemia e das formas de identificação do mundo que ele ganhou forte popularidade. Agora, o mundo é visto como frágil, ansioso, não linear e incompreensível. A pandemia do COVID-19 acelerou ainda mais a transformação digital e houveram mudanças necessárias e definitivas para a adaptação das empresas a este novo cenário. 

“A ideia de mundo VUCA (volatile, uncertain, complex, ambiguous) era uma tentativa de tornarmos um cenário bagunçado gerenciável. No entanto, esse termo já não abrange tudo que tem ocorrido. BANI (brittle, anxious, nonlinear, incomprehensible), por sua vez, demonstra que essas forças sistêmicas não são gerenciáveis, mas adaptáveis.“, afirma o antropólogo Jamais Cascio em uma entrevista à HSM

Como definir o mundo BANI

A sigla BANI é dividida entre as quatro características que vimos anteriormente e, para cada uma delas, há um significado específico que se relaciona às formas de observar o mundo atual. 

#1 brittle – frágil

As mudanças ocorridas em relação ao vírus pandêmico podem nos mostrar que o mundo definitivamente é frágil. Se achávamos que estávamos no controle das coisas, de repente, nos deparamos com a incerteza do amanhã. A economia pode mudar rapidamente e o mercado pode se transformar drasticamente.

Ao nos depararmos com um mundo frágil, portanto, é preciso atenção e estratégia para haja uma adaptação às mudanças com maestria. É preciso que as pessoas estejam sempre preparadas para o imprevisível. 

#2 anxious – ansiedade

A ansiedade está marcando presença no nosso modelo de vida atual. O luto, o senso de urgência para decisões importantes, a incerteza, crise econômica e as maiores possibilidades de erro deixam as pessoas ansiosas.

Esse cenário social reflete diretamente no mundo dos negócios. É necessário que hajam atitudes mais rápidas e que as companhias saibam aproveitar as oportunidades que podem aparecer repentinamente. Além disso, acreditamos que as empresas devem tornar seus ambientes mais seguros psicologicamente para todas as pessoas.

#3 nonlinear – não-linearidade

Atualmente, os eventos parecem desconectados e desproporcionais. As empresas precisam ter facilidade de adaptação para que façam parte dessa realidade, com uma estrutura bem definida e padronizada. No entanto, grandes planejamentos para o futuro podem não fazer mais sentido em um cenário de constantes mudanças. 

#4 incomprehensible – incompreensível

Na era da informação, as pessoas buscam respostas para tudo, mas a incompreensão é gerada quando há uma ausência de sentido nessas respostas e quando a complexidade excede a capacidade de entendimento das situações.

É preciso que as estratégias das empresas levem em consideração tudo o que ainda não se pode compreender. 

Como se adaptar ao mundo BANI

Entender as características dessa essa nova dinâmica de mundo já é um ótimo começo para encará-lo de frente e criar estratégias que podem se adaptar a essa realidade. É importante que as corporações estejam antenadas aos acontecimentos que podem impactar a sociedade, o consumidor e, consequentemente, as formas de consumo. 

Após as mudanças sociais advindas da pandemia, muitos pesquisadores e CEOs influentes já apontaram que as novas tendências de mercado incluem cada vez mais as políticas ESG (environmental, social and governance, em tradução livre, práticas ambientais, sociais e de governança corporativa). 

No artigo “O ESG chegou na sala do CEO”, publicado pelos sócios da empresa McKinsey, conhecida como líder mundial no mercado de consultoria empresarial, Reinaldo Fiorini e Vincenti Assis afirmam:

“O ESG chegou finalmente à mesa dos CEOs – e chegou para ficar. Se antes atentar-se para questões ambientais, sociais e de governança poderia ser uma escolha de posicionamento das empresas, hoje já é uma prioridade estratégica para os líderes com maior visão de futuro.”

Os sócios ainda afirmam que a ideia de que as empresas devem gerar valor para a sociedade através das pautas ESG está cada vez mais clara. Afinal, gradativamente a sociedade se importa cada vez mais com o impacto social e ambiental de toda a cadeia de produção e essas pautas fazem parte das empresas do futuro, inseridas em um novo sistema do capitalismo contemporâneo.

O CEO da BlackRock, considerada a maior empresa de investimentos mundial, escreveu uma famosa carta onde aponta a urgência do avanço das pautas ESG no ambiente corporativo, fazendo uma correlação entre a pandemia e as novas formas de consumo. Em sua carta, Larry Fink aponta:

“Acredito que a pandemia apresentou uma crise existencial de tal magnitude – um lembrete tão forte de nossa fragilidade – o que nos levou a confrontar a ameaça global das mudanças climáticas de maneira mais enfática e refletir como, a exemplo da pandemia, elas transformarão nossas vidas. Ela também nos recordou como as maiores crises, sejam de natureza sanitária ou ambiental, demandam uma resposta global e ambiciosa.“

Em um contexto onde os consumidores, principalmente falando de juventudes, estão cada vez mais preocupados com o rumo mundial, Larry Fink faz também uma correlação entre a sustentabilidade e a lucratividade das companhias:

“Empresas ignoram seus stakeholders por sua própria conta e risco – aquelas que não forem merecedoras desta confiança terão mais e mais dificuldades para atrair consumidores e talentos, especialmente na medida em que os jovens cada vez mais esperam que empresas espelhem e compartilhem de seus valores. Quanto mais a sua empresa puder demonstrar seu propósito em entregar valor aos seus clientes, seus colaboradores e suas comunidades, melhor será sua capacidade de competir e entregar lucros duradouros, de longo prazo, para os acionistas.”

Jamais Cascio, criador do conceito mundo BANI, declara em sua entrevista à HSM: 

“A sociedade não sobreviverá se tratarmos as transformações que estão ocorrendo agora como meras questões políticas e tecnológicas.”

Jamais Cascio também aponta a importância de reavaliar as questões climáticas e sociais. Segundo ele, no mundo BANI, a intuição, empatia e resiliência serão cada vez mais importantes, pois se tratam de capacidades exclusivamente humanas. 

A adaptação das empresas é necessária

Nessa nova dinâmica de mundo, não há como fugir das mudanças da sociedade e do comportamento cada vez mais exigente dos consumidores. Para além do discurso, acreditamos que as empresas devem estar atentas às pautas ESG nas suas ações cotidianas, pois adotar um discurso sustentável só para estar dentro das tendências de mercado pode ser um verdadeiro “tiro no pé”. O que interessa de verdade é: 

  • Quanto a sua companhia investe em ações sustentáveis e de inclusão social? 
  • Quais as ações tomadas para entregar valor à sociedade e aos consumidores?

No contexto de fragilidade do mundo BANI, as empresas precisam investir no fortalecimento das equipes, buscando uma cultura colaborativa e incentivando a capacitação dos colaboradores. Essas são ferramentas para tornar as organizações mais resistentes, que podem também resultar em uma lucratividade maior a longo prazo.

A transparência nos negócios e na comunicação deve ser mantida para estabelecer uma relação de confiança com os talentos da empresa. Já no quesito ansiedade, as companhias precisam trabalhar a empatia das lideranças e entender o quanto as soft skills e a segurança psicológica das pessoas devem ser valorizadas.

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Carolina Abreu

Redatora e ilustradora, graduada em Comunicação, faço parte do time de conteúdo da Eureca. Minha missão por aqui é escrever artigos que apontem soluções criativas e inclusivas para o ambiente corporativo, visando a construção de um futuro com maior nível de equidade e sustentabilidade.

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