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Criar ações afirmativas para aumentar a representatividade de pessoas negras na sua empresa é um ótimo primeiro passo. Porém, você sabe como reter, desenvolver e promover pessoas negras para que elas cheguem aos cargos de alta liderança?


Faça o teste do pescoço: olhe a sua volta e conte quantas pessoas negras trabalham na sua empresa. Ou melhor, quantas dessas pessoas ocupam cargos de liderança

Em um país em que 56% da população se autodeclara negra, a lógica seria encontrar essa mesma proporção nas escolas, universidades e em cargos de executivos. Mas a realidade é bem diferente: de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pessoas negras ocupam apenas 29,9% dos cargos de gerência no Brasil. 

Por mais que algumas empresas ainda ignorem, promover a equidade racial no ambiente de trabalho, além de contribuir para a pauta antirracista, é lucrativo. De acordo com um estudo realizado pela consultoria McKinsey & Company, empresas com mais diversidade étnica em cargos executivos têm até 36% mais chances de aumentar o lucro através da inovação, criatividade e produtividade da equipe. 

Mas para tornar o ambiente de trabalho inclusivo para pessoas negras é necessário ir muito além de ações pontuais, é preciso estruturar políticas e ações de equidade que façam parte da cultura da empresa. 

Qual a diferença entre igualdade e equidade? 

Quando a inclusão de pessoas negras no mercado de trabalho é colocada em pauta, é comum encontrar pessoas pensando em políticas de igualdade e equidade racial, mas é importante saber que, por mais que os termos equidade e igualdade possam soar semelhantes, as duas coisas não são sinônimas. Entender a diferença entre esses termos é a chave para implementar em sua empresa ações que valorizam a diversidade e inclusão de pessoas negras.

Igualdade 

A igualdade racial no mercado de trabalho é focada em criar um ambiente em que todas as pessoas tenham as mesmas possibilidades, independentemente de suas necessidades. Pode até parecer uma boa ideia, mas o problema é que isso só é eficaz se todas as pessoas tiverem pontos de partida semelhantes e os mesmos acessos a recursos para alcançar os objetivos desejados. 

Equidade

Pensar em equidade é considerar as necessidades individuais ao reconhecer que fatores como raça, etnia, idade, gênero e classe social, por exemplo, podem impedir o sucesso de uma pessoa em relação a alguém que teve mais oportunidades ao longo de toda a vida.

Por isso, o primeiro passo para alcançar a igualdade racial de forma realmente eficaz é pensar em políticas de equidade que ofereçam oportunidades e recursos para atravessar as barreiras que atrapalham o sucesso individual de uma pessoa. Nesse processo, as ações afirmativas, por exemplo, são ótimas opções para acelerar a inclusão e desenvolvimento de pessoas negras no mercado de trabalho e futuramente alcançar a igualdade. 

Em poucas palavras, igualdade é o destino e equidade é a jornada. 

Quais são as ações para promover a equidade racial no mercado de trabalho? 

Sem dúvidas a construção de uma cultura organizacional que valoriza a diversidade e a inclusão de pessoas negras é o ponto de partida para pensar em equidade racial. Por mais que essa seja uma pauta presente nas reuniões de empresas que se preocupam em atrair, desenvolver e reter talentos diversos, muitas empresas ainda não sabem como criar ações para promover a equidade racial no ambiente de trabalho. 

Embora a jornada de cada organização para pensar em ações de equidade racial seja única, separamos 5 passos essenciais para a criação de uma cultura que valorize a equidade racial no mercado de trabalho: 

Passo #1: mapeie a realidade da empresa

Só é possível solucionar um problema ao reconhecer que ele existe. Por isso, o mapeamento da sua empresa é o ponto de partida para criação de novas ações.

A implementação de um censo étnico-racial pode ser uma ótima estratégia para mapear o perfil dos colaboradores e conhecer quem são as pessoas que trabalham na organização e como elas se autodeclaram. Com essa ferramenta será possível entender o percentual de pessoas negras (pretas e pardas) que trabalham em cada setor, cargo e função na empresa, o que torna possível analisar a realidade da sua empresa e pensar em medidas e ações de equidade. 

É comum ter empresas que acreditam estar em um alto patamar quando o assunto é diversidade por contratarem diariamente pessoas negras. Porém, ao analisar os dados do censo, essas empresas percebem que essas pessoas estão apenas na base, como estagiários, trainees e juniores. Partindo desse ponto, é possível investigar porque a empresa não retém ou promove profissionais negros, por exemplo. 

Além do questionário, também vale a pena ouvir as pessoas negras que já estão dentro da sua organização, entendendo como elas se sentem, quais são suas principais necessidades e desafios na empresa. 

Passo #2: invista no letramento racial da sua equipe 

Assim que os dados são analisados e a falta de profissionais negros na empresa é identificada, a primeira reação é pensar em processos seletivos para contratar pessoas negras. Mas é preciso dar um passo atrás. Antes mesmo de trazer pessoas novas para a equipe é indispensável garantir que a sua empresa seja um lugar seguro e inclusivo para pessoas negras. Por isso, entender a história do Brasil e como o racismo estrutural afetou o desenvolvimento profissional de pessoas negras é um dever para toda a equipe e que pode, inclusive, fazer parte de treinamentos de desenvolvimento da equipe.

Mas é importante estar ciente de que criar uma cultura empresarial inclusiva não acontece do dia para a noite, por isso, é essencial que esse passo mais didático seja dado. Afinal, de nada adianta apenas algumas pessoas na organização estarem cientes do problema, todos precisam entender o que é o racismo estrutural e também os conceitos básicos para iniciar essa conversa como: cor, raça, etnia, racismo, viés inconsciente, ações afirmativas e cotas, por exemplo.

Passo #3: crie processos exclusivos para pessoas negras

Diante da desigualdade racial, ações afirmativas são ferramentas importantes para oferecer acesso aos grupos discriminados. Por isso, a criação de processos seletivos exclusivos para pessoas negras é uma forma de eliminar as desigualdades historicamente acumuladas, garantindo oportunidades de desenvolvimento de carreira para pessoas negras.

Mas para ter sucesso em processo seletivos exclusivos para pessoas negras, é importante dar atenção a alguns pontos: 

  • ter uma equipe de educação e seleção treinada para deixar de lado os vieses inconsistentes e avaliar pessoas negras de forma justa; 
  • rever os pré-requisitos da vaga para que algumas exigências, como inglês fluente, não afastem bons talentos da oportunidade; 
  • ter pessoas negras entre a equipe de recrutadores para gerar uma conexão com as pessoas candidatas. 

Vale lembrar que priorizar o recrutamento de pessoas negras não é “racismo reverso”, inclusive, racismo reverso não existe. As ações afirmativas de reparação não discriminam pessoas brancas, elas apenas equiparam as oportunidades e transformam a seleção de pessoas em uma etapa mais justa no mercado de trabalho. 

Passo #4: tenha foco em inclusão 

Muito além de contratar pessoas negras, é dever da empresa garantir que essas pessoas sejam acolhidas, respeitadas, valorizadas e se sintam bem no ambiente profissional. Afinal, diversidade e inclusão não são sinônimos! Ter um plano de retenção e promoção de pessoas negras, por exemplo, são estratégias de equidade que garantem que todas as pessoas tenham oportunidades de integração, acolhimento e desenvolvimento na organização.

Passo #5: mantenha diálogo com a equipe sobre as ações implantadas  

Quando existem problemas de comunicação, os conflitos demoram muito mais para serem resolvidos, por isso, ouvir sua equipe frequentemente é essencial para evitar que erros se perpetuem.

Porém, para ter uma comunicação bem estruturada, somente rodar internamente um formulário de feedbacks sobre as ações de equidade racial não vai ser o suficiente. Ao estimular essa cultura é preciso ter canais de comunicação muito bem definidos. Afinal, além de falarem e serem ouvidos, os colaboradores também querem respostas e, nesses casos, dar abertura para debater as questões trazidas é essencial para o sucesso das estratégias de inclusão. 

Além disso, a criação de uma ouvidoria interna, focada em combater o racismo institucional, pode ser uma ótima estratégia para criar um espaço seguro para pessoas negras. 

Onde estão as lideranças negras? 

Ao se comprometer com a equidade racial no mercado de trabalho é preciso entender que este não é um caminho linear. O racismo no Brasil é estrutural e é impossível mudar completamente essa estrutura do dia para a noite.  Mas com foco, intenção, recursos (humanos e financeiros) e a dedicação de toda a equipe, a começar pelas lideranças, é possível transformar essa realidade. 

As políticas de ações afirmativas são um ótimo começo para aumentar a representatividade de pessoas negras na sua empresa, porém o maior desafio está na ocupação dos cargos de alta liderança, onde essas pessoas ainda são a minoria. 

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Adrivania Santos

Mulher, negra e periférica, faço parte do time de conteúdo da Eureca. Por aqui, meu trabalho é transformar dados, conhecimento e vivência em pautas atuais e conteúdos que gerem reflexão, experiências e mudanças na sociedade.

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