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Como as juventudes LGBTQI+ são afetadas por isso?

Podemos usar diversas metáforas para ilustrar o que acontece quando as juventudes LGBTQI+ saem do armário, mas primeiro precisamos falar sobre como o mundo é antes dessa descoberta. As teorias políticas e sociais explicam a existência de uma normatividade na nossa sociedade, isto é, um comportamento padrão que é defendido e estimulado pelas pessoas que exercem algum poder sobre as outras. Podemos trazer como exemplo a igreja, a escola, a família, o trabalho, os amigos e até a biologia. Isso quer dizer que há no mundo uma norma nos mostrando qual é a maneira correta de existir, de sentir, de se expressar e exercer sua liberdade. 

Então, perguntamos, você é livre para ser quem você é no espaço social em que vive?

Para muitos, a resposta vem fácil: sim. Isso porque você pode responder os padrões da normatividade, tanto em termos identitários quanto de beleza. Ser bonito também nos recai como uma pressão social e é bem difícil lidar com isso na juventude, concorda? Para outros, a liberdade é uma angústia constante. Pois bem, diagnosticada essa estrutura que nos pressiona, agora é hora de sair do armário junto conosco e entender as juventudes LGBTQI+. 

De início, podemos nos questionar como essa norma foi posta, por quem, com quais objetivos e essa resposta pode vir bem fácil: nós somos seres inclinados a exercer influência sobre o mundo, faz parte da nossa natureza e, consequentemente, da nossa história. Só precisamos encontrar um jeito saudável de fazer isso e aqui nesse texto podemos encontrar uma luz sobre o problema. Vem conosco?

Como o fenômeno da diversidade ocorre?

A diversidade vem à tona quando descobrimos que não suprimos às expectativas comportamentais do mundo. 

Quando nascemos, encontramos um mundo cheio de possibilidades, mas com o tempo nos damos conta de que nossos sonhos não são tão possíveis assim. Essa percepção pode vir ao não me reconhecer no corpo que nasci, por exemplo. Ou não se sentir atraído afetivamente pelo sexo oposto. Ou até mesmo não ter certeza sobre qual gênero ou afetividade prefere. A diversidade é tamanha, que a própria sigla LGBTQI+ não dá conta de simbolizar, mas é importante que tentemos entendê-la e expressá-la na sua completude. 

Vamos entender um pouco do “T” da sigla. Transsexual é um termo usado para pessoas que não se identificam com seu sexo biológico e passam a se reconhecer no sexo oposto, mulheres transexuais e homens transexuais, por exemplo. Para o caso de nos reconhecermos com o sexo biológico, nos denominados cisgêneros. 

É importante esclarecer essa sigla, pois podem ocorrer mal entendidos em processos seletivos ou em outras situações em que somos chamados pelo nome de nascença, mas que já não usamos mais. A reflexão aqui é atentar-se para o uso do nome social. Sobre as outras letras, temos Lésbica, Gay, Bissexual, Queer, Intersexual, Assexual e o “+” para outras expressões como Não-Binário, Gênero fluído e Pansexual. 

A discussão sobre o recorte lgbtqi+ possui muitas nuances e muitas vezes as famílias acabam não lidando bem com a diversidade por não ter informações suficientes sobre o tema para entender que é um comportamento normal e aceitável. Por isso, é comum nos depararmos com situações terríveis de violência e negligência no mundo. Buscar o diálogo e informação é sempre a melhor saída, além de não naturalizarmos os comportamentos intolerantes sob a justificativa da ignorância. Vamos entender mais?

Como podemos entender a diversidade no Brasil e no mundo?

Quando pensamos em produtos culturais, é fácil encontrar aquele filme ou livro que fala sobre o futuro e muitas vezes acerta nas previsões tecnológicas – como os tablets e os filmes 3D mostrados em De volta para o futuro. A tecnologia tem pressa, é acelerada, mas nem sempre os comportamentos sociais seguem essa mesma velocidade. Não é a toa que observamos tantos conteúdos abordando futuros distópicos, de colapso social, como em Black Mirror e Years and Years. Quando vemos o atraso da realidade de inclusão LGBTQI+, é até fácil se sentir perdido no tempo, não é mesmo? E por isso é tão importante falarmos sobre o assunto.

A nível mundial, já temos iniciativas voltadas para a comunidade LGBTQI+, dentre elas a própria Agenda 2030 da ONU conta com ações de inclusão e geradoras da paz e, mais recente, a decisão da Suprema Corte dos EUA de 15 de junho de 2020, que torna ilegal a demissão de colaboradores devido a sua orientação sexual ou identidade de gênero. 

Em pesquisa apresentada pelo Grupo Gay da Bahia no ano passado, o Brasil é apontado como o campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais: a cada 26 horas um LGBTQI+ é assassinado ou se suicida vítima de LGBTfobia. O número é maior, inclusive, que muitos países onde ainda existem leis que penalizam com a morte esse grupo. E ainda contamos com uma subnotificação enorme dos casos, como podemos perceber no Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Embora seja o primeiro levantamento oficial nacional de dados desta violência no país – o que, por si só, já é um avanço -, ele desenha um mapa de invisibilidade no território nacional, com um levantamento ainda precário e sem participação efetiva dos estados. 

No Disque 100, a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, foram registradas 513 denúncias de violações contra pessoas LGBTQI+ só no primeiro semestre de 2019. Já no âmbito trabalhista, o Brasil é campeão em homofobia no trabalho nos países avaliados pela pesquisa da Outnow: cerca de 68% dos funcionários LGBTQI+ já sofreram com comentários preconceituosos.

Mas olha, a gente sabe que ainda tem um longo caminho pela frente, mas essa situação tem mudado – e muito – com o tempo. 

Do ponto de vista legal, o Brasil ainda não possui uma legislação voltada para essa população. Alguns marcos foram alcançados nos últimos anos, embora sejam resoluções ainda frágeis, como o reconhecimento de uniões estáveis, nomes sociais e, mais recentemente, o fim da proibição de doação de sangue por homossexuais. 

Na legislação brasileira, existem três frentes para proteção que podem ser usadas para esse grupo: a Constituição – que garante o princípio de igualdade -, a Lei 9025, que proíbe práticas discriminatórias no ambiente de trabalho, e a decisão histórica do STF no ano passado, que coloca a homofobia e transfobia na lei dos crimes de racismo até que uma legislação mais direcionada seja aprovada no Congresso.

Esse movimento lento de evolução também reflete no mercado de trabalho. Se em gerações anteriores, era comum que os profissionais LGBTQI+ se sentissem pressionados ao silenciamento e criassem personas distintas para a vida privada e o trabalho, a gente já consegue observar uma valorização dessas diversidades ganhando força.

Em pesquisa realizada pelo LinkedIn no ano passado, metade dos entrevistados afirmaram já ter se assumido a colegas de trabalho e um em cada três gestores gays, de acordo com a Outnow, não sentem mais medo e não se escondem. E mais, o Datafolha divulgou uma pesquisa em 2017 que indicava que 74% dos brasileiros acreditam que a homossexualidade deve ser aceita – a rejeição chegava a 80% apenas 25 anos atrás, imagina!

Além do benefício pessoal ao se assumir, isso também faz com que esses profissionais se tornem uma inspiração para quem ainda tem medo, promovendo mudanças na cultura das empresas e o acesso ao mercado de trabalho, com empregos dignos, em espaços onde há respeito e inclusão.

Como entender e incluir as juventudes LGBTQI+ nos espaços sociais?

A compreensão de que a diversidade não é um “fenômeno” isolado, mas que faz parte da sociedade e do ser humano, se mostra como uma saída para acabarmos com o preconceito.

Assim, quanto mais soubermos sobre a causa e maior for a convivência com as diversidades, menor o incômodo que poderia haver em vê-las representadas em produtos culturais. Prova disso é que 81% do público heterossexual assiste séries LGBTQI+ na Netflix. Ao nos conectarmos com esses personagens – como o Eric, de Sex Education, a Casey de Atypical ou o Omar de Elite, por exemplo –, passamos a entender cada vez mais realidades diferentes das nossas. A pesquisa da Netflix ainda confirma: 85% dos LGBTQI+ afirmaram que isso ajudou suas famílias a terem mais informações sobre o tema e os entenderem melhor. E isso cria um círculo virtuoso.

A cultura é uma fonte de poder riquíssima, um artefato político. Por isso vemos tentativas de censura desses materiais por governos mais conservadores, como vocês bem devem lembrar do quadrinho na Bienal da Literatura do Rio de Janeiro, que continha um beijo gay, e extinção de editais de cultura focadas nesse pública. Essa é uma forma de evitar que as pessoas sejam vistas e acolhidas pela sociedade.

Esses padrões, impostos como normais, corretos, desejáveis – ser heterossexual, branco, magro, católico, sem deficiência -, pautam a construção dos espaços sociais, gerando exclusões sistêmicas e discriminação. Mas a gente bem sabe que existe uma pluralidade infinita de pessoas, comportamentos e ideias e tentar se adaptar para caber nessa caixinha programada é um processo doloroso. Falar de normalidade ao abordarmos um tema que é individual e íntimo, pressupõe que existe um desvio da norma, um erro. Mas a diversidade faz parte do mundo em que vivemos e de quem nós somos como sociedade e, por isso, precisamos entendê-la e acolhê-la enquanto tal. 

Você não é diferente, o mundo que é unidimensional.

Valorizar a diversidade é entender que determinadas características não são empecilhos. Muito pelo contrário, no mercado de trabalho, podem trazer resultados ainda melhores. Duvida? Segundo a McKinsey, mais do que apenas um tema de responsabilidade social, a inclusão dentro de companhias pode representar resultados financeiros até 21% mais lucrativos. 

Equipes diversas são mais inovadoras e criativas, com desempenho 57% melhor. Afinal, quando a gente se sente acolhido e acredita no que faz, é natural que o engajamento também seja mais alto, né? E isso está diretamente associado à produtividade, inovação e criatividade! Sem contar que os produtos e serviços são pensados de forma a atender a essa infinidade de diferentes pessoas que formam a população. Então, o funcionário, a empresa, os negócios e a sociedade de forma geral ganham quando esses valores são levados à sério no ambiente de trabalho.

Por isso, essas pautas já fazem parte da cultura organizacional de várias empresas, que mais do que promover processos seletivos diversos, também desenvolvem programas e práticas de valorização dessa diversidade. Também temos projetos como o Fórum de Empresas e Direitos LGBTQI+, que influenciam o desenvolvimento de ações concretas nesse sentido, com signatários como a Dow, Pepsico e Nestlé, empresas parceiras nos nossos processos seletivos.

Você não precisa ficar fingindo ser alguém que não é para se adequar às pessoas ao seu redor. Como percebemos, as empresas já começaram a notar o poder da diversidade e têm buscado cada vez mais pessoas originais, plurais, diversas. Ou seja, o mercado quer você, bem do jeitinho que você é. 

Esse artigo foi produzido por duas Lauras, a Santos e a Morais. Ambas do time da Eureca. A Laura Santos é consultora de comunicação, responsável por fazer você ficar por dentro das oportunidades que estão rolando. A Laura Morais é Community Manager, gerindo a comunidade online da Eureca. Ambas fazem parte do círculo circular na Eureca, composto por pessoas da comunidade LGBTQI+, que se reúnem para discutir pautas relacionadas ao universo LGBTQI+ e as transformações necessárias para termos espaços de maior acolhimento e aceitação.

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Mafê

Jornalista mineirinha, mais conhecida como Mafê do time Eureca, é responsável por tudo de conteúdo que você, jovem, vê nos canais Eureca, além de acalentar o seu coração com a nossa newsletter, a The Talk.

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